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A essência da alma madeirense

A Água da Madeira já criou um perfume em homenagem à Madeira e prepara agora mais dois.

Autoria Cláudia Caires Sousa|Fotos Miguel Nóbrega

Assim que a perfumista Myriam Palmero pisou solo madeirense pela primeira vez, em 2021, pressentiu que a sua vida estava prestes a mudar radicalmente. A intuição não a atraiçoou. A verdade é que se mudou com o marido para a ilha, que considera um “paraíso”, e criou a empresa Água da Madeira, inspirada pela ideia de novas descobertas que o território insular lhe desperta.

“Estou sempre à procura de sensações e de fragrâncias. O que mais me inspirou quando conheci a Madeira foi a flora, que é muito rica. O primeiro perfume que fiz é, no fundo, um passeio pela ilha, mas também uma declaração de amor”, diz-nos a perfumista panamenha, com um sorriso nos lábios.

Contou-nos, ao pormenor, o processo criativo da fragrância que lançou no mercado, no ano passado, sendo que a marca Água da Madeira contempla uma gama para o corpo (perfume e sabonete) e para casa (vela perfumada e ambientador).

“Quando aterramos no aeroporto, em Santa Cruz, a primeira sensação olfativa é a do mar, o cheiro a maresia. Mas depois, quando vamos até ao Funchal, encontramos o Mercado dos Lavradores, e aí temos o cheiro das flores e das frutas tropicais, que é muito especial e característico. Por fim, todos acabamos por fazer uma levada, e aí os cheiros já são outros — como musgo, almíscar e um toque amadeirado”, desvenda-nos Myriam Palmero.

O conceito visual da marca Água da Madeira foi também uma homenagem a esta região portuguesa. Simboliza, de forma minimalista, a calçada do Largo do Colégio, no Funchal, a azul, ecoando o mar.

Myriam Palmero e Mariaceleste Lombardo

A empresa, este ano, prepara-se para lançar duas novas fragrâncias exclusivas — “uma mais floral e outra mais verde, mais montanha”. Para isso, Myriam Palmero convidou a conceituada perfumista italiana Mariaceleste Lombardo para um projeto de criação conjunto.

Têm estado a explorar os cheiros da ilha e em contacto direto com a Universidade da Madeira, para estudar e conhecer com rigor as plantas endémicas. O objetivo, explicam, é “dar a conhecer ao mundo o caráter da Madeira através de um perfume”. Mariaceleste Lombardo tem uma visão filosófica sobre o mundo da perfumaria: Cada pessoa comunica através do perfume que utiliza. “É uma grande responsabilidade”, diz-nos entre risos, e acrescenta que “deixamos uma memória viva nos outros com a nossa fragrância”.

Assim sendo, o que comunica a Madeira? E de que forma a sua essência pode ser traduzida num perfume?

Com um brilho no ar, a perfumista italiana admitiu que não tem dúvidas do desafio que tem pela frente. Elogiou o caráter selvagem e exótico da ilha, que “comunica algo amplo — contrastes de temperatura, de luz e sombra, de mar e montanha”.

“Os nossos olhos estão sempre a contemplar coisas diferentes aqui. Há um cheiro que emana também das pedras vulcânicas, do verde, e são nuances naturais completamente opostas. Sinto-me em casa aqui. Eu nasci na Sicília, que é também uma ilha vulcânica. Cresci cercada pelo cheiro salgado do mar, pelo jasmim, pelas árvores, pelas laranjeiras. E neste processo criativo vou colocar algo que vem das minhas origens, até porque, na nossa memória, imprimimos cheiros. E, uma vez que estão connosco, permitem-nos reviver os sítios onde pertencemos. Estão conectados às nossas raízes mais profundas.”

Nesse sentido, a perfumista italiana sublinha a tarefa hercúlea — mas apaixonante — de “organizar todas estas ideias e sensações em notas olfativas”.

Em suma, Myriam Palmero e Mariaceleste Lombardo não estão apenas a criar dois perfumes com a marca Água da Madeira. Estão a construir pontes entre a memória olfativa e a identidade de um sítio. Um projeto que é, acima de tudo, uma celebração do que a Madeira desperta — e deixa no ar.

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