Gourmet

Madeira com um twist

O vinho Madeira pode ser bebido simples, mas tem também um grande potencial misturado em cocktails, desde os simples, aos mais complexos.

Autoria Paulo Santos|Fotos Miguel Nóbrega

Há muitas formas de beber vinho da Madeira licoroso. E há diferentes sabores, ou idades, o que tornam estas provas uma experiência vasta. Mas este vinho também pode ser bebido em cocktails, uma tendência que os puristas não aprovam, mas a que o mercado reage positivamente. Além dos cocktails clássicos, há uma tendência que tem vindo a impor-se para misturas mais ligeiras, que produzem bebidas frescas e leves.

Zózimo Castro é mixologista, com largos anos de experiência. E é o embaixador da Blandy´s Madeira Wine para a marca Miles, com vinhos de cinco anos, muito direcionados para este tipo de misturas. À Essential elogia o potencial do vinho generoso na mixologia e exemplifica: “podemos fazer um spritz com vinho Madeira, usando água tónica, ou água com gás e espumante, muito ao estilo do Aperol Spritz, mas sem o Aperol”.

Outro exemplo é a mistura do vinho com Ginger Beer ou Ginger Ale, que acaba por dar origem a um Madeira Ale. Se for vinho Madeira com água tónica e um twist de citrinos, o nome passa a ser Madeira Tónico. Em todos os casos, estes “mixers” são garantias de frescura, simplicidade e até podem ter um grau alcoólico variável, podendo ser adicionadas outras bebidas, como vodka.

No trabalho de colaboração com a marca Miles, Zózimo Castro dedica-se a fazer ações de formação e sensibilização junto de profissionais de bar ou outros mixologistas. A todos defende que o vinho Madeira devia ser mais usado. “Se formos a Nova Orleães, é bastante utilizado o vinho Madeira” em misturas. Zózimo Castro dá mesmo o exemplo do cocktail dos anos 1920, Boston Flip, que leva vinho Madeira, mas que “não se faz na Madeira”.

“E porque não se faz?”A pergunta do mixologista foi o ponto de partida do trabalho como embaixador. E o trabalho passa por “desmistificar” muitas ideias, como a de que o vinho Madeira “é apenas para molhos”, ou para “pessoas mais velhas”. Trata-se de introduzir juventude e versatilidade, ganhando novos públicos, no relançamento de uma moda que, não sendo nova, tem passado por fases em que surge com mais ou menos vigor.

Zózimo Castro tem tido boa resposta dos clientes e dos profissionais. Mas lamenta que depois, as listas dos bares, não incluam estas misturas, que são em tudo semelhantes a preparar um gin tónico, só que com vinho Madeira.

Para estas misturas podem ser usados vinhos de três e cinco anos. Doce, ou menos doce, ajudam a criar diversidade. As gamas de entrada de Madeira oferecem, esta diversidade de paladares.

Mas Zózimo Castro não descarta a versatilidade dos vinhos mais velhos para cocktails mais elaborados. E dá até um exemplo, que aprendeu em Nova Orleães, de um Negroni, que não é feito com vermute, mas sim Madeira. Além do diferente sabor, há outra vantagem: “o vinho Madeira não oxida mais, enquanto o vermute, se não for guardado no frio, depois de aberto, oxida”, o que pode ser uma vantagem para a gestão de stocks.

Ao contrário do rum da Madeira, que já é bastante usado em cocktails, o vinho fortificado ainda é pouco utilizado. Mas estas misturas funcionam para dias de calor, e como alternativa nos bares. É uma forma de visitantes provarem algo com um toque local, sem ser demasiado estranho, ou fora da caixa.

Para alguns puristas estas abordagem desvirtuam o vinho. Mas quem faz estes vinhos e trabalha com eles, trata-se apenas de uma forma de criar potencial. Tudo depende da resposta do mercado, a partir do momento em que “os donos dos estabelecimentos os ponham nas cartas”, diz Zózimo Castro.

Zózimo Castro
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